domingo, 28 de maio de 2017

O melhor marido do mundo e arredores.

Depois deste resultado, em que o beta nos indicou uma gravidez bioquímica, arregaçamos as mangas e fomos novamente à luta. Ainda tínhamos 2 embriões e a próxima transferência ia ser feita em ciclo natural. Ou seja, não precisava de fazer qualquer tipo de estimulação e eu via isso de forma positiva. Tivemos de fazer uma pausa de um ciclo, e durante esse tempo o meu marido foi extraordinário. Ele acreditava piamente que desta vez seria a boa, e queria que eu estivesse também confiante a 100%. Procurou na Internet casos de sucesso, e todos os dias me deixava pequenas mensagens de encorajamento: por sms, bilhetes na porta do frigorífico, escrito no espelho da casa de banho, na minha carteira, nos bolsos... Mensagens do tipo: "desta vez vamos conseguir", "a taxa de sucesso de uma TEC é superior", casos especificos que encontrou de mulheres que conseguiram a segunda tentativa... Enfim, quase todos os dias eu podia encontrar uma mensagem deste tipo. Tão bom sentir esta entrega da parte dele. Ele quer um filho tanto quanto eu, adora crianças, não há dúvida que vai ser um excelente pai.

No dia 20 de Março, liguei novamente para a clínica para anunciar a menstruação e marcar para 11 dias depois uma ecografia de forma a controlar o período fértil. Assim que o endometrio tivesse a espessura certa poderia fazer a transferência. 

Antes da ecografia tiramos uns dias de ferias para descansar, para tentarmos pensar noutras coisas e para namorarmos muito! Foi o que fizemos! Fomos uns dias até Itália. 

sexta-feira, 26 de maio de 2017

O resultado da FIV.

A transferência foi feita no dia 2 de Fevereiro e o teste à hormona da gravidez (HCG) estava marcado para o dia 14. Dia dos namorados. A espera é interminável. Sinceramente para mim esta é a pior fase do tratamento. Temos tempo para pensar muito. Para sentir medo, angústia. Tudo o que se pode imaginar. Os primeiros 2 ou 3 dias ainda passam relativamente bem mas depois... Os minutos parecem horas, as horas parecem dias e os dias... Nunca mais acabam! Eu tenho o péssimo hábito de ir procurar informação á net. Devoro tudo. Sites de medicina, blogs, fóruns... procuro no Dr. Google tudo e mais alguma coisa: primeiros sintomas de gravidez, taxas de sucesso da FIV,  quem conseguiu engravidar à primeira com a FIV. Enfim.. Não me consegui abstrair. Impossível. 

Claro que para ajudar à festa tive todos os sintomas. Eu estava consciente (ou não) que poderia ter a ver com a medicação e muito provavelmente com os óvulos de ultrogestan que eu estava inserir de manhã e à noite... Mas e porque não sonhar? Afinal tinha todas as possibilidades do meu lado. 2 embriões de boa qualidade, taxa de sucesso de 30%. Tinha de ser desta. Tinha de ser.

Eu relatava em direto ao meu marido tudo o que sentia.
"Estou a sentir umas cólicas. Estive a ver na net e pode ser um sintoma."
"Estou com sono...Isto pode ser bom sinal."

O pobre só me perguntava: 
Tens  cólicas? O que é que isso pode ser? E o sono? O que pode ser?
Eu não queria estar a criar falsas expectativas mas também não conseguia  estar a guardar para mim o que sentia. Difícil de gerir.

Nós não quisemos partilhar com muita gente sobre o que estávamos a passar. Apenas os meus sogros, a minha tia e uma amiga estavam ao corrente. Amiga essa que foi, e continua a ser um pilar para mim. Ela está a seguir todo o processo,  aconselha-me, ouve-me. Uma verdadeira irmã. Não sei se ela tem noção da importância que ela tem tido para mim.

Um dia antes da data do beta, comecei a ter um corrimento escuro. Muito pouco, mas péssimo sinal. Na manhã do exame, a assistente perguntou se tinha vestígios de menstruação e eu disse que tinha corrimento. Não gostei da cara que ela fez mas eu sabia. Não era bom.

Ao final da manhã liguei para a clínica para ter o resultado e o veredicto caiu: 8 mUI/ml. Eu sabia que abaixo de 10 era praticamente impossível que evoluisse. Mesmo assim ela aconselhou a ir dois dias depois para repetir o exame.

Quando desliguei o telefone senti uma tristeza enorme. Sensação de morrer na praia. Liguei ao meu marido e chorei. Chorei muito. Ele foi buscar-me ao trabalho para podermos estar um pouco juntos. 

No dia seguinte tive a menstruação. Já não valia a pena repetir o exame.
Os dias seguintes foram difíceis. Tive medo de nunca conseguir. Não conseguia, e ainda não consigo perceber o que falhou. 
Marcamos mais uma consulta com o ginecologista para fazer um novo balanço e sabermos quando poderia ser feita a nova transferência. 

A esperança conforta a alma, a honra e a vida.  A FIV.

Nós não fizemos uma FIV convencional mas sim uma FIV-ICSI. Esta técnica permite melhorar as taxas de fecundação quando as causas são de origem masculina.
Nesta técnica um espermatozoide móbil, e com aspeto morfológico normal é selecionado e injetado diretamente no interior de um ovócito, originando desta forma um embrião. Depois de formado, o embrião é transferido para o útero segundo um processo semelhante ao utilizado pela FIV.

Assim que a menstruação apareceu no mês de Janeiro,  liguei para a clínica para anunciar o início do tratamento. Desta vez as estimulações seriam mais fortes, o objetivo seria ter o máximo de ovócitos para poder fecundar. Foi-me prescrito Gonal 187 IU por via injetável.

O desenvolvimento dos ovócitos foi então controlado através da realização periódica de ecografias e análises ao sangue, para avaliar os níveis de algumas hormonas.
Quando os ovócitos estavam com um tamanho razoável, foi-me administrada durante 3 dias uma injeção para impedir a ovulação, enquanto continuava com as injeções de Gonal todas as noites para que os ovócitos atingissem o tamanho ideal.
36 horas antes da punção, a última injeção(Ovitrelle), desta feita para provocar a libertação dos ovócitos a partir dos folícos. Devo confessar que nesta altura já tinha 2 nódoas negras enormes na barriga, uma de cada lado do umbigo. 

A punção dos ovários foi feita numa segunda feira de manhã, sob sedação (anestesia geral em sala de operações). Esta etapa consiste na introdução na vagina de uma agulha muito fina que permite recolher os ovócitos a partir de cada um dos ovários. A operação é relativamente rápida, dura entre 15 a 20 minutos.

No mesmo dia dia da punção, o meu marido fez novamente a recolha de esperma na clínica. O esperma foi então sujeito a uma série de processos de tratamento, de modo a selecionar os espermatozoides mais fortes e com melhor capacidade de fertilização. 
Assim que tive alta, e antes de sair da clínica tivemos uma reunião com o biologista que nos informou ter conseguido retirar 9 ovócitos, e que apenas 6 estavam maduros. No dia seguinte iria receber um telefonema para informar quantos embriões tinham conseguido fecundar.
Passei o resto do dia em repouso, até porque tinha algumas dores (dores essas que se mantiveram no dia seguinte).

Ao final da manhã do dia seguinte telefonaram da clínica para nos informar que tinham conseguido fecundar quatro embriões. Infelizmente dois tinham-se perdido, aparentemente é algo normal. O importante é que tínhamos quatro fecundados e poderíamos fazer a primeira transferência dali a 2 dias!!!

Na quinta-feira tínhamos marcação para o final da manhã, eu tive de ir com a bexiga cheia. Num ecrã o médico mostrou-nos os 2 embrioes que foram fecundados, divididos em 4 células cada um. Segundo ele os embriões eram de excelente qualidade. A inserção dos embriões é efectuada através de um catéter sob controlo de uma écografia.

Não é necessário ficar em repouso, pelo que saímos logo a seguir a transferência. Eu consegui ter 4 dias em casa, porque mesmo o médico não achando necessário eu realmente acredito que o repouso e a tranquilidade podem ajudar bastante.

A consulta antes da FIV.


Mais uma consulta com o especialista da clínica de fertilidade para fazer o balanço de todo o tratamento até aqui. Sinceramente o médico é excelente e tentou responder da melhor forma a todas as nossas dúvidas. Disse-nos que apesar de não ter resultado até aqui, não significava que não era possível. As probabilidades aumentam conforme o número de tentativas. Nós não quisemos continuar com as IIU's. Achamos que seria melhor fazer a FIV. O médico disse que a FIV era "feita para nós", ou seja para casais na nossa situação. Informou-nos sobre todo o protocolo, os custos e claro, que por mais que as probabilidades sejam superiores, nada é garantido. O facto de fazermos a FIV não nos garantia um bebé. Mas que mais poderíamos fazer? Era tudo o que tínhamos. Uma possibilidade. Um sonho e um desejo muito forte de sermos país e de ter o nosso bebé nos braços. A taxa de sucesso desse tratamento para uma mulher de menos de 35 anos ronda os 30%. 

Eu tento sempre ver o lado positivo das coisas. 30% não deixa de ser um resultado baixo, se pensarmos nos 70% que são negativos. Eu realmente acreditei que era possível.  Sim. Ia ser desta!!

Como nos estávamos a aproximar do final do ano, decidimos esperar até Janeiro. Fomos de férias até Marrocos, namoramos, passeamos..enfim, fizemos as pazes com a vida. Olhamos-nos muitas vezes nos olhos e vimos um brilho especial, carregado de esperança. 2017 iria ser com toda a certeza o nosso ano! Dizem que quando nós desejamos muito uma coisa ela acaba por acontecer não é? 

quinta-feira, 25 de maio de 2017

A segunda, a terceira tentativa e a dura realidade.


Recomecei com as estimulações , novamente Gonal 50 IU,  visitas à clínica para controlar o amadurecimento dos óvulos e nova inseminação. Da segunda conseguimos dois milhões e meio de espermatozoides. Mais do dobro da primeira vez! Estávamos tão contentes! Esperança renovada! 

Durante essas semanas tive alguns sintomas. Eu sabia que a medicação poderia causar tensão mamária e até algumas náuseas mas eu queria acreditar que eram sintomas precoces de gravidez. Se em cada tentativa tínhamos 20% de probabilidades de obter um resultado positivo e esta era a segunda, então 20+20=40. 

Até que fiz o teste de farmácia em casa e o resultado foi mais uma vez negativo. Foi difícil. Ainda por cima só tínhamos mais uma tentativa. A seguir ou continuavamos com as IIA pagas por nós ou passávamos directamente para a FIV. Também seria pago por nós mas pelo menos a taxa de sucesso seria superior.

Marcamos uma consulta com o especialista e falamos sobre estas tentativas falhadas, as nossas expectativas e tentamos compreender o que se passou. Ele deu-nos o exemplo de um dado: Nós queremos tirar um seis. Quantas mais vezes tentarmos, maior a probabilidade de acertarmos, mas não significa que algum dia seja possível de obter o número desejado.

Decidimos aumentar a dosagem hormonal de Gonal,  de forma a ter mais óvulos.
Queríamos ter o máximo de hipóteses do nosso lado. Fizemos uma nova tentativa que veio revelar-se mais uma nez negativa...

Desta vez foi muito difícil de aceitar. Um autêntico balde de água fria. Fiquei muito triste, desanimada, tudo aquilo que possam imaginar.

O meu marido reagiu muito mal. Discutimos muito. Choramos ainda mais. Tivemos o que se pode chamar de uma "crise". Ele achava que o facto de eu ser muito ansiosa poderia estar a prejudicar, e eu sentia como se ele estivesse a culpar-me. Eu estava a fazer tudo o que podia, como é que ele podia estar a insinuar isso?

Felizmente conseguimos chegar a razão e conversamos. Não podíamos deixar isso acontecer... Nós tínhamos de ficar mais fortes, mais unidos e não o contrário.  Senão não íamos conseguir. A partir desse momento consegui compreender aqueles casais que acabam por se separar depois de passarem por uma situação destas. É preciso ser muito forte. Aguentamos muita coisa, muitas decepções. Caímos muitas vezes e é muito difícil nos levantarmos depois de tantas quedas.
A inseminação intra uterina.


No primeiro dia da menstruação liguei para a clínica para anunciar o início do menstruação. Ao terceiro dia comecei com as estimulações hormonais, uma injeção diária Gonal (50 IU). O objetivo era conseguir dois óvulos maduros.

Foram efetuados controlos a cada x dias para controlar o crescimento e amadurecimento dos óvulos e, quando eles estavam prontos, mais uma injeção, desta feita para induzir a ovulação.  Esta injeção deve ser tomada uma média de 36 horas antes da inseminação. 

No dia marcado lá estávamos nós.  O meu marido teve de ir duas horas antes para recolher o esperma de forma a ser preparado no laboratório para isolar os espermatozoides com boa mobilidade. Eu fui mais tarde para a inseminação. A médica disse-nos que foram recolhidos 900 mil espermatozoides, um pouco abaixo do desejado já que o ideal é pelo menos um milhão, mas que por uma diferença tão pequena valeria a pena fazer a inseminação. No final de contas por mais que a ciência ajude muito, a partir de um certo momento, a natureza é que decide.

Estávamos animados. Afinal já era muito mais do que tínhamos conseguido até então. Tínhamos dado um passo em frente! Pensávamos nós que se estava tudo bem comigo, se estávamos a dar uma ajudinha á natureza, a facilitar o trabalho ao encurtar o caminho.. que mais poderia falhar? Bem, nós estávamos conscientes de a taxa de sucesso não era muito mais elevada que uma concepção natural mas 20% são sempre 20%. Quem sabe se a sorte não estaria do nosso lado?

Depois de inseminados os espermatozoides fiquei entre 10 a 15 minutos deitada, e em seguida, vida normal. Não é necessário repouso adicional, certificado de trabalho, nada. É um procedimento simples e rápido. 

A seguir era esperar. 15 dias depois poderia fazer um teste de farmácia para conhecer o resultado.

Não foi preciso esperar tanto tempo. Antes da data do teste comecei com perdas escuras, que anunciavam a chegada da menstruação. Mesmo assim, fiz o teste, e como esperado foi negativo.
Ficamos triste como é óbvio.  É uma tentativa falhada. Mas como poderíamos fazer a segunda tentativa logo em seguida, ou seja não era necessário fazer repouso entre ciclos, liguei logo para a clínica para recomeçar o procedimento. Para a frente é que é o caminho!
O tratamento da infeção e os seguros de saúde.


Após a consulta com o urologista o meu marido começou a tomar antibióticos atrás de antibióticos. A infeção não passava e o médico não sabia o porquê. Fez vários outros exames, incluindo aos rins para ver se tinha outro problema. Felizmente não,  mas foram uns meses de tratamentos e claro, de espera para podermos começar com a inseminação.

No país onde vivemos não existe um sistema nacional de saúde como em Portugal. Aqui temos um seguro de saúde privado obrigatório, caríssimo que, na minha modesta opinião deixa bastante a desejar. O nosso médico fez o pedido diretamente a seguradora para três ciclos de inseminação, o máximo que poderíamos fazer cobertos pelo seguro. 
Se estes falhassem, poderíamos continuar e fazer mais algumas IIU com as despesas a nosso cargo ou passar para a FIV. Qual não foi o meu espanto ao descobrir que a FIV não era coberta pelo seguro. É um tratamento caríssimo que teríamos de suportar por inteiro. Não me pareceu justo. O nosso desejo de ter um bebé poderia ser posto de parte por causa de dinheiro. As pessoas que passam por este tipo de tratamentos, fazem-no porque tem algum tipo de problema de saúde  (mesmo os casais que não tem diagnosticada uma razão específica não quer dizer que não o tenham). Não consigo entender como um seguro de doença obrigatório, não dá essa possibilidade. É no mínimo revoltante!